Kung Fu Lounge
Friday, November 19, 2004
Em plena Ditadura, o velho Jinkings contrabandeava livros de esquerda em meio a caixas de insuspeitos quadrinhos europeus publicados em Portugal. O cara tinha as manhas. Enfiava traduções em espanhol e português de livros do Marx, Engels, Trostky e Mao no meio de álbuns de gente como Moebius, Druillet, Phillipe Caza, Enki Bilal, Quino, Palomo, Plantu e outros grandes nomes das HQs do Velho Mundo.
Meu pai comprava os Marx e companhia. Eu ficava com os quadrinhos. Coisa que, aliás, fez eu desenvolver um dialeto meio esquisito com o passar do tempo de tanto ler histórias naquele português estranho. Foi numa dessas idas à livraria do Jinkings que peguei para folhear um álbum de capa amarela: O Incal Negro - Uma Aventura de John Difool. Não fazia idéia do que era um Incal, mas o livro vinha com o nome de Moebius na capa, que eu curtia das séries Tenente Blueberry e A Garagem Hermética. Foi o suficiente para levá-lo para a casa. E junto com Moebius acabei levando também Alejandro Jodorowsky. As coisas nunca mais foram as mesmas. Mesmo para uma criança habituada às maluquices da turma da Metal Hurlant Jodorowsky era um pouco demais para mim com sua visão cínica e absurda do mundo. Tudo o que fez com Moebius na série do Incal ficou na minha cabeça, da mesma forma que, anos mais tarde, ficariam Thomas Pynchon, Alan Moore, Frank Zappa e Phillip K. Dick. Revendo El Topo essa semana, deu para entender porque esse foi o filme que levou os irmãos Cohen a se meter com cinema e fez com que John Lennon e Yoko Ono inaugurassem uma sessão da meia-noite em Nova York só para exibi-lo.
Em homenagem ao cara, republico aqui uma entrevista que fiz com ele em 2000. Kung Fu Lounge
- posted by Vladimir Cunha @ 8:45 PM
Friday, November 19, 2004
O filho do rato
Alejandro Jodorowsky é o cara. Eu tinha uns nove anos quando meu pai me levou à livraria Jinkings e disse para eu escolher o que quisesse. Fui direto à sessão de quadrinhos.Em plena Ditadura, o velho Jinkings contrabandeava livros de esquerda em meio a caixas de insuspeitos quadrinhos europeus publicados em Portugal. O cara tinha as manhas. Enfiava traduções em espanhol e português de livros do Marx, Engels, Trostky e Mao no meio de álbuns de gente como Moebius, Druillet, Phillipe Caza, Enki Bilal, Quino, Palomo, Plantu e outros grandes nomes das HQs do Velho Mundo.
Meu pai comprava os Marx e companhia. Eu ficava com os quadrinhos. Coisa que, aliás, fez eu desenvolver um dialeto meio esquisito com o passar do tempo de tanto ler histórias naquele português estranho. Foi numa dessas idas à livraria do Jinkings que peguei para folhear um álbum de capa amarela: O Incal Negro - Uma Aventura de John Difool. Não fazia idéia do que era um Incal, mas o livro vinha com o nome de Moebius na capa, que eu curtia das séries Tenente Blueberry e A Garagem Hermética. Foi o suficiente para levá-lo para a casa. E junto com Moebius acabei levando também Alejandro Jodorowsky. As coisas nunca mais foram as mesmas. Mesmo para uma criança habituada às maluquices da turma da Metal Hurlant Jodorowsky era um pouco demais para mim com sua visão cínica e absurda do mundo. Tudo o que fez com Moebius na série do Incal ficou na minha cabeça, da mesma forma que, anos mais tarde, ficariam Thomas Pynchon, Alan Moore, Frank Zappa e Phillip K. Dick. Revendo El Topo essa semana, deu para entender porque esse foi o filme que levou os irmãos Cohen a se meter com cinema e fez com que John Lennon e Yoko Ono inaugurassem uma sessão da meia-noite em Nova York só para exibi-lo.
Em homenagem ao cara, republico aqui uma entrevista que fiz com ele em 2000. Kung Fu Lounge
- posted by Vladimir Cunha @ 8:45 PM
Um comentário:
Comments:
Essa página foi um ACHADO PRECIOSO, por algumas razões principais:
- Sou neta do velho Jinkings, dono da livraria onde comprou seu primeiro Jodorovsky. O cara que tinha as manhas (tinha mesmo);
- Sou MUITO fã do Jodorovsky, amei as declarações dele na entrevista. Queria saber melhor como vc entrou em contato com o cara;
- Sou atriz paraense residente em SP, e conheci o Jodorovsky essencialmente como cineasta assistindo o impressionante SANTA SANGRE. Só descobri que ele fazia quadrinhos maravilhosos, muito recentemente. Atualmente tenho praticamente todos os DVDS dele em casa, alguns quadrinhos, o livro QUANDO TEREZA BRIGOU COM DEUS e a peça OPERA PANICA (ge-ni-al);
- Eu coloquei o nome do Jodorovsky no google e achei esse blog falando do meu avô!!!!!! Impressionante.
- Tenho impressão que conheço vc, através da Catharina (que agora tá na Alemanha). Faz sentido?
Abraço,
Maeve Jinkings.
# posted by Maeve : November 2, 2007 11:33 AM
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