“Uma família que tem por hábito plantar livros, só poderá colher nessa vida boas historias." (do pai de Clarinha)
Um Semeador
Clarinha, certo dia de 1992, visitava o Brasil com uns amigos e foi assaltada. Na Praça Batista Campos, em Belém. Um assalto violento à mão armada.
Clarinha, certo dia de 1992, visitava o Brasil com uns amigos e foi assaltada. Na Praça Batista Campos, em Belém. Um assalto violento à mão armada.
O assaltante a perseguiu e a feriu no braço com uma faca e tomou-lhe a bolsa. Ela conseguiu fugir e refugiou-se em uma livraria próxima.
Ela retornou à Paris, onde residia, com uma cicatriz de 16 pontos que levou o corte no braço. Ao recordar o episódio, conta ela, o que lhe veio à mente foi uma grata sensação do acolhimento e da solidariedade que recebeu naquela livraria. A gentileza daquele homem de cabelos branquinhos, que a amparou naquele momento, lhe oferecendo carinho e tanta atenção, foi o que marcou Clara. Muito mais do que aquela cicatriz.
O senhor de cabelos brancos ofereceu-lhe água, chamou a polícia, ligou para as pessoas que a hospedavam no Brasil, perguntou se precisava de algo, de dinheiro. Só depois soube o nome da livraria. Levou com ela, de volta a Paris, o nome da livraria Jinkings, a lembrança da agressão e a recordação daquele homem gentil. Ela tinha apenas 15 anos.
Anos depois, em 2009, navegando na rede, passando por um site de relacionamento, ela encontrou alguém que morava em Paris e tinha aquele nome que ela jamais esquecera. Deixou, então, um recadinho perguntando se teria ligação com aquela família de Belém.
Foi assim que, ao encontrar Mayra, neta de Raimundo Jinkings, ela pode resgatar aquela lembrança, com nome e sobrenome. Aquele homem gentil agora tinha nome, sobrenome e uma história que a emocionou.
Clara nos presenteou – a família – com o seu depoimento de uma lembrança que traz a nós uma sensação parecida à dela, ao lembrar.
- ... nunca esqueci a gentileza com que fui tratada lá, nunca mais soube nada dessas pessoas, do Senhor educado, inteligente e gentil que me trouxe água. Acredite, nem uma má impressão ficou em mim, mesmo o assalto tendo sido muito violento, apenas ficou em mim que aquelas pessoas foram as mais gentis que conheci em toda minha vida... as da família Jinkings.
Generosamente, Clarinha devolveu-nos a gentileza, proporcionando um momento de doce saudade. Um homem, como a sensibilidade dela captou, educado, gentil, atencioso, justo, generoso, preocupado com o futuro, dedicado à luta por um mundo melhor.
- Contei para meus pais que achei alguém da família do senhor que me ajudou, já fazem mais de 15 anos..., e meu pai me falou... "Uma família que tem por hábito plantar livros, só poderá colher nessa vida boas histórias."
Leila Jinkings
10 comentários:
Que emoção no primeiro contato com esse blog.
Que saudades tenho dos tempos de Belém, anos 70, tempos em que, na clandestinidade, conheci Belém a partir da livraria do Jinkings. Tinha ali um porto seguro, porque além dos livros que de quando em quando beliscava, tinha o agradável papo dessa grande figura humana. Também ali conheci o menino Álvaro, se a memória não me trai, filho do Velho, que continuaria a livraria, pois não?
Sem dúvida: Raimundo Jinkings, um Semeador.
Eu tive o imenso prazer de conhecer essa "pessoa", ele me chamava de Aninha. Mudei de cidade, nunca mais tive notícias e agora reencontrá=lo por aqui está me fazendo voltar a um passado que eu nunca esqueci. Valeu pelo lindo texto. Valeu pelas lindas lembranças que agora vejo passar em forma de saudade. Um grande abraço par você Leila.
Ana, obrigada pela visita e pelas lembranças.
Mantenha-se por perto.
abs
Antonio, você lembra do Álvaro, realmente. Ficamos Antonio (Toninho), Álvaro (Valico) e eu, junto com Isa, nossa mãe, levando a livraria após a ida de papai. Hoje estão lá, resistindo, mamãe e Toninho, no mesmo endereço.
Apareça sempre.
Leila,
Li e chorei.
Abraços do
Alencar
Obrigada pela visita, Alencar. Apareça sempre.
Alencar,querido amigo,
Obrigada por se fazer presente.
Um grande abraço.
Isa
Alencar, querido amigo,
Muito obrigada por se fazer presente.
Leila,
Nunca nos falamos, mas eu também freqüentava a livraria Jinkings nos anos 80...
Conheci o teu pai, a delicadeza estava presente no olhar, sorriso e fala dele. Uma vez procurando um livro indicado pelo professor de Direito, fui até à Livraria Jinkings, e lá conversando com o "velho" Jinkings, ele contou-me que certa vez no interior (não lembro agora precisamente a cidade), ele havia sido nomeado advogado pelo juiz da localidade para fazer a defesa de uma pessoa(ele lembrou que naquele tempo era raridade encontrar-se um advogado no interior, e a lei permitia a atuação de rábulas), pois bem, Jinkings com muita autoridade disse-me que devorou o livro que eu procurava e fez a defesa do "desgraçado" conseguindo a absolvição do mesmo.
Ah! Ia esquecendo o nome do livro, era do jurista alemão Rudolf von Ihering: - "A Luta Pelo Direito".
Abraços,
Pedro Nelito
Nelito, muitíssimo obrigada por seu depoimento.
É reconfortante e, a cada vez que ouvimos histórias sobre o carater generoso e amável dele, vem sempre a saudade e o orgulho que sentimos.
O resgate que você faz é tão importante, verídico e creio que foi em Bacabal, no Maranhão. Mas isso vou deixar para mamãe completar.
Grande abraço
Leila
Postar um comentário