domingo, 10 de agosto de 2014

Saudade de estar com êle

Saudade do meu pai, Raimundo Antônio Jinkings.
Ele adorava tratar dos animais do sítio. Era um humanista, amava as pessoas e os animais. Lutou por um mundo mais humano e justo.
Este vídeo foi filmado em mini VHS por mamãe, Isa Jinkings, em 1991, no Sítio dos Netinhos, Benevides, Pará.




por Leila Jinkings

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Miséria Humana

MISÉRIA HUMANA
Por Raimundo Jinkings



Quando passamos pelas ruas de Belém, principal­mente a João Alfredo, deparamos com um grande número de seres humanos que, certamente, já tiveram lar, já trabalharam, já produziram e já contribuíram com a parcela de seus esforços para o progresso de nossa Pátria, do nosso Estado, e para o enriquecimento de alguns privilegiados da sorte e do regime, mas que hoje estão transformados em verdadeiros farrapos humanos, jogados nas calçadas, submetidos ao sol e à chuva, sujeitos a toda sorte de misérias, comendo aquilo que o diabo enjeita, desprezados por tudo e por todos, humilhados pela própria sociedade. Esses mesmos homens que, sem dúvida, sonharam ter na velhice uma vida tranqüila, sem privações, digna dos que traba­lham e que produzem, viram seus esforços e seus ideais vencidos pela ambição insaciável dos ricos e pelo descanso dos governos. Triste realidade!


Quanto é triste e doloroso saber que dentre esses mendigos, que estão jogados ao léu, ostentando suas chagas físicas ao lado das rebrilhantes exposições de jóias, há um jovem que esteve na última guerra, lutou e sacrificou-se pela prometida liberdade e fraternidade dos povos. Esse in­feliz idealista voltou da guerra, doente, inutilizado para o resto da vida, mas cheio de esperanças, na certeza de que havia contribuído para a conquista do mundo com que so­nhara. Ao regressar, não desejava mais do que a Paz para o mundo e o necessário para sua subsistência. Entretanto tudo lhe foi negado. Os homens, que lhe prometeram vida melhor, esqueceram-se do compromisso, e estão agora gozando as delícias das fortunas conseguidas à custa da miséria do Povo durante a guerra, desse mesmo Povo de quem foram exigidos o sangue, o trabalho e o sacrifício, pa­ra defesa da Paz e da Democracia, dessa Paz e dessa Democracia que ainda não conhecemos.

Não poderá haver Democracia e nem poderá haver Paz enquanto assistirmos a cenas dolorosas como essas, e enquanto não acabarmos com os privilégios vergonhosos dessa estranha fauna dos capitalistas. O que precisamos é de justiça, mas a justiça só é perfeita, só é justiça de verdade quando é feita igualmente para todos, sem distinção condições sociais, de raças ou de cor. São do grande Simon Bolívar estas significativas palavras: "Conservai intacta a lei das leis: a igualdade. Sem ela perecem todas as liberdades, todos os direitos". Quão verdadeiras são essas palavras que, lendo-as, acreditamos com toda a sinceridade que um dia haveremos de dar ao nosso Povo aquilo que não nos é possível dar-lhe no regime capitalista: a igualdade econômica e social. No próprio Estados Unidos, o país capitalista mais rico do mundo, existe a fome e a miséria, consoante apuração feita em 1939, dos 30 milhões de famílias norte-americanas 8 milhões morreriam de fome se o governo não as socorresse, e 11 milhões lutariam contra a miséria. Referindo-se a essa estatística, o líder nacional do Partido Socialista, o eminente Dr. João Mangabeira, com precisão: “Tudo isso demonstra que ainda no país mais rico do mundo, o regime capitalista não pode resolver o problema da fome e da miséria".

O problema da pauperização em nosso Estado do governo imediatas providências medidas concretas benefício do Povo, com o objetivo de acabar com essa si­tuação difícil e desmoralizante.
Nem a mais santa das intenções resolve em contrário.

Lembrem-se de Fauchet na convenção da grande Revolu­ção Francesa:
"Considerando que a igualdade não deve ser uma miragem enganadora que todos os cidadãos inferiores, velhos órfãos indigentes, sejam albergados, vestidos e alimenta­dos à custa dos ricos; os sinais da miséria sejam destruí­dos, a mendicidade e a ociosidade sejam proscritas; que se dê trabalho a todos os cidadãos válidos".

Que adiantou? Nada. A questão, evidentemente, não é de sonhar. Ou o governo se mexe, ou o Povo virá a fazê-lo por suas próprias mãos inevitavelmente, de modo violen­to.
Há o caminho da construção socialista, pacífica, e há o caminho que garante sucessos, como os acontecimentos do Rio Grande do Sul estão a indicar. Escolha o governo a solução enquanto ainda lhe resta um pouquinho de tempo.

Folha, 10/08/1952
(Reproduzido no livro Entre as Letras e as Baionetas, de Jocelyn Brasil, pp. 179 a 181).

domingo, 2 de março de 2014

Lembranças dos sábados na Livrariazinha, por Salomão Laredo

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO E DA LEITURA
Guerreiras. elas começaram na LIVRARIAZINHA JINKINGS: Ana Letícia e Annelise Miléo, as meninas leitoras de Santarém, estão agora no Teatro em Curitiba

Salomão Larêdo, escritor e jornalista
Ana Letícia e Annelise no colo de Salomão



Na década de 1980, objetivando ajudar na formação do leitor crítico e analítico a Livraria Jinkings abriu um espaço específico e adaptado para as crianças, denominado “Livrariazinha” e lá, convidado, começamos, com os donos da ideia e da livraria: seu Jinkings, dona Isa, Leila, Varico, Toninho e todos os funcionários, aos sábados, os processos de cooperar na formação do leitor crítico. 


As manhãs eram cheias de atrações para a criançada e seus pais, para o importante, salutar e necessário contato com o livro, a leitura. 

Lá, as crianças ouviam histórias, contação de casos e sobretudo de socialização, a conexão do ser humano com a vida nos livros, as ideias e tudo o mais que a cultura e a leitura desencadeiam. Foi uma novidade em Belém e um sucesso enorme. Lá, muita gente surgiu, descobriu se tornou leitor e ledor. 

Lembro que nessa época, aos sábados, nosso programa que sempre foi ir a uma livraria, passamos - meu, de Maria Lygia e do nosso filho Filipe – especificamente a frequentar a Livrariazinha e nesse empenho, alegria e prazer, recordo que numa manhã de sábado, lotado de crianças, estavam lá duas garotas de Santarém, que acompanhadas da mãe Ana Helena e da tia Anacacilda e elas, mocorongas – Annelise e Ana Leticia - desinibidas, cantavam e contavam coisas de seu lugar e então começamos um interação e uma amizade que perdura até hoje. 

As meninas, como mostra a foto, sentaram no meu colo e juntos, cantamos essa linda música do querido maestro Isoca, santareno que é a Lenda do Boto:


LENDA DO BOTO

Letra e Música: Wilson Fonseca (1954)
Quando boto virou gente
Pra dançar num puxirum,
Quando boto virou gente
Pra dançar num puxirum,
Trouxe o “olho”, trouxe a “flecha”,
Trouxe até muiraquitã.
E dançou a noite inteira
Com a bela cunhantã.
Um grande mistério na roça se faz:
Fugiu cunhantã com o belo rapaz!...
... E o boto, ligeiro, nas ondas sumiu,
Deixando a cabocla na beira do rio...
Se alguém lhe pergunta:
“Quem foi teu amô?”
Cabocla responde:
“Foi boto, sinhô!”


Depois as meninas retornaram a Santarém, onde, muitas vezes fui em razão do trabalho de formação do leitor pelo programa “ O Liberal na Escola” e lá, a Anacacilda levava as meninas e ficava sabendo do progresso das queridas amigas e leitoras que ajudam a tia num programa cultural numa emissora e ficava contente sabendo que elas avançavam nos estudos. Depois, perdemos contato e num dos círios, em Belém, Anacacilda fez contato e passamos a nos falar por e-mail e agora elas estavam em Curitiba, para estudar artes cênicas.

(publicado originalmente no blog de Salomão Laredo)